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Outcasts – Livro 1: Párias – Capítulo 4 (Parte 6)

Enquanto medita após um treinamento com seu discípulo, Azirel percebe pequenas patas de aracnídeo caminhando pelo seu rosto e descendo no seu peito nú. Ao abrir os olhos ele vê ao longe seu discípulo carregando baldes d’água para a cabana. O velho eremita sabe o quanto aquele seu pedido foi inútil, pois essas águas, tais como suas cabanas, irão perecer com a passagem do exército Duergar que se aproxima. Mesmo assim, a hora de avisar o seu discípulo não chegou.

Há poucos instantes um Bregan D’Aerthe, pediu para Azirel enviar Alak para Menzoberranzan, pois lá precisariam dele. A resposta do velho eremita foi: “Enviarei, não se preocupem, mas antes o momento certo deve se manifestar”. O batedor ficou confuso com a resposta, mesmo assim a levou até Nym e o restante da guilda de mercenários. Talvez o “momento certo se manifestar” demore.

Talvez.

Azirel sente uma picada em seu peito. Nesse momento ele deixa de observar seu discípulo e olha em direção da aranha que acabara de lhe chamar a atenção. É uma viúva-negra. Nem uma expressão de preocupação toma o rosto do velho, apenas um sorriso de sincera felicidade. O veneno do pequeno aracnídeo nem mesmo chega a percorrer seu corpo, pois com todo o treinamento do eremita, esse é logo expelido. Azirel pega a pequena aranha com a mão direita e a beija, logo em seguida colocando-a no chão para que essa parta.

– Finalmente a hora chegou. – sorri e se levanta Azirel Sel’Xarann, caminhando na direção de seu substituto.

Outcasts – Livro 1: Párias – Capítulo 4 (Parte 4)

Em uma das tavernas do Bazaar, um dos poucos lugares de Menzoberranzan que se vê elfos negros bebendo com seres de raças inferiores, um grande Ogro se encontra sentado conversando com um drow esbelto em uma mesa em um canto escuro. O local é iluminado por fogo de fada, dando uma atmosfera lúgubre ao lugar, mas ao mesmo tempo animada, com os falatórios, risadas e confusões.

– Nym, cadê seu amigo? Não tá demorando muito, não? – pergunta o grande Ogro para o drow que está lhe acompanhando na bebida.

– Por que a pressa Brum? Não vai me dizer que você tem mais o que fazer? – responde o drow com meio sorriso no rosto.

– Na verdade não, mas se eu continuar aqui vou gastar todo meu dinheiro nessas porcarias. – responde o gigante mostrando sua caneca – Você sabe que o pessoal aqui do Underdark enfia a faca no preço da cerveja, né?

O drow gargalha e responde:

– Faz muito tempo que você trabalha nos subterrâneos, Brum! Ainda não se acostumou com nossas iguarias?

– Você está me dizendo para tomar bebida de mulherzinha? – pergunta Brum com uma cara espantada, como se Nym tivesse dito algo extremamente inacreditável – Com todo respeito. Sei que a sociedade de vocês matriarcal e tudo mais, mas isso não quer dizer que vocês precisam ser maricas.

Nym para de rir olhando para Brum como se não estivesse ouvindo o que o gigante acabara de dizer.

– Brum, cuidado com o que você diz. Você está em Menzoberranzan, lembra? – diz Nym recordando ao Ogro o risco de proferir tais palavras.

– Entendido. Então vamos falar em goblinoide, assim podemos dizer o que quisermos, ninguém aqui deve falar “línguas inferiores”. – responde Brum virando um gole de sua caneca – E toma um pouco disso para você entender o que eu estou lhe dizendo.

Brum estica a caneca em direção ao drow que voltou a gargalhar.

– Você é impagável Brum!

– OOOHHH!! Nem diga isso! – diz Brum batendo três vezes na madeira da mesa – Se eu não for pago, como poderei tomar mais cerveja?

A gargalhada do drow se torna ainda mais frenética até ser interrompida por uma voz sussurrante, mas sobrenaturalmente audível.

– Vejo que está se divertido bastante, Bregan D’Aerthe. Esse comediante seria o tal que você me disse que sobreviveria ao serviço? – a pergunta, em baixo-drow, sai das sombras de um capuz, onde apenas um queixo negro onyx e duas tranças de cabelo branco aparecem.

Contendo suas risadas o mercenário Drow se levanta e cumprimenta o recém-chegado.

– Me desculpe senhor. Não havia visto que você estava aqui. – diz Nym na linguagem comum dos subterrâneos.

– Poupe-me de suas desculpas. Apenas ofereça uma cadeira para eu me sentar. – responde secamente ainda em baixo-drow o encapuzado, enquanto Brum apenas o observa sem entender nada.

O Bregan D’Aerthe pega um dos bancos de sua mesa e oferece ao recém-chegado.

– Ótimo. Agora vamos tratar de negócios. – diz o encapuzado unindo e esfregando suas mãos, que possui uma vasta quantidade de anéis prateados e dourados de diferentes formas e tamanho. Brum torce o nariz – Quando você havia me dito que poderia me oferecer os serviços de um mercenário ogro, Nym, não me disse que era um ogro-mago.

Com uma feição séria, Nym curva-se levemente e responde também em baixo-drow:

– Isso não vem ao caso, Senhor…

– Como!?! – interrompe raivosamente o drow encapuzado – O que vem ao caso ou não sou eu quem decide.

Brum levanta uma das sobrancelhas e olha torto para o drow misterioso. Mesmo não entendo o que eles estão conversando, a forma de agir do forasteiro o incomoda.

– Desculpe Senhor, mas Brum desistiu da prática arcana quando bem jovem e não se simpatiza muito com magia.

– Ah. Que interessante. – diz o encapuzado com desdém.

– Ele é um dos mercenários mais resistentes que conhecemos, Senhor. – complementa Nym.

– Vocês poderiam me incluir na conversa? É um tanto desagradável vocês conversarem como se eu não estivesse aqui. Além do mais eu não entendo a língua de seres superiores. – diz Brum ironicamente.

O capuz vira em sua direção. “Como ele consegue me enxergar através desse pano? Deve ser minha barriga”, pensa brum colocando a mão em sua dura e ampla pança.

– Você quer participar da conversa ogro? – a voz sai sussurrada debaixo do capuz, mas ela é magicamente encantada para que aqueles que estão na mesa possam escutar.

– Sim gostaria, mas você poderia falar um pouco mais alto, tem muito barulho aqui na taverna. – responde Brum fazendo um sinal com a mão aparentemente pedindo para que o encapuzado observe o ambiente.

Nesse momento Nym sente seu corpo suar frio e olha para Brum o advertindo. O encapuzado vira-se para o Bragan D’Aerthe e diz em baixo-drow novamente.

– Um tanto mal situado esse seu amigo, não? – diz secamente a voz que sai do capuz – Não parece saber seu lugar, e me parece um tanto resistente a certas magias simples. Vamos ver se ele é realmente resistente.

Rapidamente o encapuzado aponta sua mão direita em direção a Brum e fala algumas palavras arcanas enquanto esfrega com a mão esquerda um dos anéis que está no dedo anelar apontado para Brum. Em poucos segundo uma flecha esverdeada atinge o peito de Brum que fica olhando com uma das sobrancelhas erguidas para o mago encapuzado. A flecha de ácido se desfaz ao tocar o corpo do gigante.

– Er… para que você fez isso? – pergunta o ogro – Da próxima vez você poderia atirar misseis mágicos? A quantidade é maior, atinge uma área maior, conseqüentemente faz mais cócegas.

O mago se levanta irado e aumenta o tom de sua voz. Brum se levanta para encará-lo.

– Aprenda a respeitar seus superiores, ogro! – o capuz do mago cai um pouco ao levantar a cabeça para falar com Brum, que encara os olhos vermelhos que se escondem lá dentro.

– Eu só respeito àqueles que me pagam, drow. – responde Brum secamente.

– Então cale a boca! – diz o mago tirando um pequeno pacote com duas ametistas e jogando-as em direção ao ogro.

– Sim, Senhor. – responde Brum se curvando levemente e sentando-se novamente antes do mago se sentar.

Assim que o mago se senta, ele retoma a conversa com o Bregan D’Aerthe em baixo-drow.

– Acredito que ele serve para o serviço. Mas quero alguém que possa conter a personalidade de nosso largo contratado para acompanhá-lo. Você se dispõe Nym? – pergunta o mago em tom amigável.

– Sinto muito senhor, fui contratado para um outro serviço, mas conheço quem possa. – responde rapidamente Nym.

– Então chame-o e contrate-o por mim. Porém, o contrato dos dois será diferente.

O Bragan D’Aerthe olha desconfiado para o mago encapuzado.

– Quero que o ogro sirva como espião. Preciso saber o que ocorreu durante a busca dos Xorlarrin. – diz o mago enquanto tira um pergaminho do seu manto, Brum apenas observa – Porém ele deve agir como se tivesse sido contratado para proteger a clériga da Casa Maior, entendido?

– Sim. – responde brevemente o mercenário drow.

– Enquanto ao outro, quero que ele seja contratado apenas para proteger a clériga e conter os impulsos comediantes do nosso grande enviado. Estamos entendidos?

– Sim Senhor. Mas aonde os Xorlarrin serão encontrados? E como eles aceitaram os dois “guarda costas”?

O mago estica o braço e entrega o pergaminho a Nym e responde:

– Peça para os mercenários mostrarem isso a eles. – Nym pega o pergaminho – Eles terão que aceitar.

O Bragan D’Aerthe prepara-se para abrir o pergaminho, mas o mago segura sua mão.

– Não é para nenhum de vocês lerem, apenas os Xorlarrin.

– Desculpe senhor. – responde Nym enquanto o mago tira várias sacolinhas de pedras preciosas de seus bolsos.

– Aqui estão os pagamentos, divida como achar melhor. – diz o mago se levantando e virando as costas para a mesa.

Enquanto Nym junta e confere as sacolas, o mago sai do recinto sem ter mostrado em nenhum momento seu rosto em público.

– Sujeito simpático, né? – comenta Brum olhando para a porta da taverna por onde o mago acabou de passar.

– Brum olha isso. – diz Nym mostrando parte do pagamento que será destinado ao ogro que arregala os olhos – Ele quer te contratar. Precisamos conversar a respeito disso rapidamente, pois tenho que entrar em contato com Azirel.

Com o olhar fixo no seu pagamento, Brum comenta com um sorriso no rosto:

– Um drow exemplar. Diria até mesmo amável!

Nym gargalha e inicia a conversa com o ogro, explicando para esse, qual é o seu contrato.

Outcasts – Livro 1: Párias – Capítulo 4 (Parte 3)

– Minha mãe, não vejo porquê levar algum guerreiro junto comigo para investigar sobre um culto de escravos a Lolth. – diz uma jovem clériga Xorlarrin ajoelhada na frente de uma clériga obviamente mais experiente e madura.

– Você é idiota? – responde a clériga mais velha, olhando sua filha com espanto e ódio – Você não estará indo investigar um “culto de escravos a Lolth” sua imbecil, você estará indo descobrir algo sobre seu irmão traidor.

Contendo a raiva, Chalithra controla seu tom de voz.

– Desculpe.

– Não achei que seria necessário que eu fosse mais direta. Você já sabia que seu irmão foi visto nas proximidades do Braeryn. – diz Baltana Q’Xorlarrin ainda olhando secamente para sua filha.

– Sim, sabia. – responde Chalithra concentrando-se enormemente para se controlar e demonstrar apenas seu falso respeito.

– Agora que você já me fez perder a paciência, compreenda seu desígnio: você irá ao Braeryn com o falso objetivo de descobrir coisas a respeito do culto a Lolth pelos seres inferiores, porém, você estará realmente indo lá para descobrir onde está seu irmão e o que ele está fazendo. Compreendeu? – finaliza ironicamente o discurso.

– Sim Senhora. – responde Chalithra sentindo suas mãos tremerem.

Desde que iniciou o silêncio de Lolth, a Casa Xorlarrin não tem passado por bons momentos. Uma das piores situações foi descobrir que o Draegloth hermafrodita Zaknafein, que era um clérigo de Lolth, na verdade era um agente duplo. Isso afetou ainda mais a parte da família que era mais diretamente relacionada a ele.

Chalithra Q’Xorlarrin foi escolhida entre as suas outras irmãs, por ser a “menos preparada” e a mais “sacrificável” caso algo desse errado. Zaknafein demonstrou-se um adversário temível ao fugir de Menzoberranzan. Chalithra, no fundo de seu coração, desejava não ter sido a escolhida.

– Leve um de seus amantes. Aconselho você a levar Rizzen, pois ele será mais ápto a sobreviver. E alguém precisará sobreviver para nos trazer as informações.

Chalithra se mantém em silêncio.

– Concorda? – Baltana intíma sua filha com o olhar ainda mais severo a responder.

– Sim, minha Senhora. – se esforça Chalithra para concordar. Rizzen sempre foi seu amante favorito e ela não gostaria de tê-lo como guerreiro acompanhante, pois prefere imensamente ele em sua cama ou como assassino particular.

– Covarde. – pensa alto Baltana com desdém – Que esteja claro que, caso você retornar sem informações, morrerá pelas minhas próprias mãos. Entendido?

– Sim, minha Senhora.

Baltana observa sua filha por um tempo e percebe que seu corpo treme discretamente. Em um acesso de raiva Baltana golpeia o rosto da filha ajoelhada com um forte tapa. Chalithra cai ao chão e brevemente olha a mãe com ódio.

– Melhor assim. Não quero uma filha covarde e fraca manchando o nome de nossa Casa. – diz rispidamente Baltana.

Chalithra desvia o olhar e se levanta aos poucos, voltando a se ajoelhar.

– Isso é tudo, Senhora? – pergunta a jovem clériga com rancor.

– Não. Esteja avisada: um mago dos Teken’Th’Tlar irá acompanhar você e seu amante. Não permita que ele saiba o que está realmente ocorrendo, compreendeu? Caso ele descobrir, mate-o.

– Sim, minha Senhora.

– Ótimo. Agora sim, pode se retirar. – diz a clériga fazendo um gesto de desdém com a mão direita, como se estivesse tirando o pó da capa de um livro.

– Sim, Senhora. – responde a jovem Xorlarrin levantando-se e caminhando até a entrada do aposento, sem voltar, em momento algum, o olhar para sua mãe.

“Você morrerá, sua velha maldita”, pragueja a jovem clériga mentalmente durante a caminhada. Ao chegar lá ela se ajoelha para orar para sua silenciosa deusa. “Como poderei enfrentar Zaknafein sem o auxílio de Lolth?”, se pergunta a clériga.

Olhando para seu amuleto em forma de aranha, Chalithra sabe que sua missão será complicadíssima sem a assistência de sua deusa. Mesmo sabendo que não há necessidade para que entre em conflito direto com seu irmão, ela também sabe que erros podem ser cometidos e isso seria extremamente perigoso.

Ao pensar em Rizzen a clériga sorri e se excita. Ela coloca seu amuleto novamente no pescoço e se levanta, saindo de seu aposento e indo se encontrar com seu assassino favorito, para ter, talvez, seus últimos momentos prazerosos em companhia daquele macho submisso.