O Rei e O Cadáver – 2º ATO – Cena 2 da 1ª PP (O Príncipe e a Donzela)
Cadáver: Ao chegarem no reino onde a Donzela vivia, os dois amigos procuraram um local para dormirem e se alimentarem. Depois de algumas horas, encontraram uma hospedaria, onde uma velha senhora era dona. Em menos de um dia, os dois amigos passaram a pagar a Velha Senhora, para que ela servisse de mensageira para o Príncipe e sua Donzela.
(Abrem as cortinas. Amigo e Príncipe em um quarto. Príncipe sentado na cama. Amigo de pé indo a direção da porta. Há alguém batendo).
Amigo: (Abrindo a porta para a Velha Senhora). Bom dia, senhora! Está bela como sempre! Seja bem vinda! Traz notícias?
Velha Senhora: (Sorrindo). Como é bom ser tão bem recebida logo de manhã! Você é muito gentil, meu jovem. Trago notícias sim! Tenho uma carta para o Príncipe.
Príncipe: (Levantando-se com ansiedade). Você me faz muito feliz, gentil senhora!
Velha Senhora: (Rindo). Não, meu jovem! Não sou eu quem faço você feliz! Mas essa carta que traz notícias de seu amor! (Ela entrega a ele, que a abraça e a beija no rosto).
Príncipe: Muito obrigado por todo o trabalho que está fazendo por mim.
Velha Senhora: Não se preocupe, aceitei fazer esse trabalho, não é mesmo? (Ela se vira para sair do quarto). Agora vou deixá-los a sós para que você leia a carta em paz, Príncipe.
Príncipe: (Abrindo a carta). Grato. (Ele tentar ler, mas não consegue). Não consigo entender. (Entrega a carta ao amigo).
Amigo: (Observa a carta por um tempo). Mmm… Está em código. Talvez ela esteja fazendo isso para manter segredo sobre a relação que quer ter com você.
Príncipe: (Pensativo). Faz sentido. Afinal, sou um Príncipe e ela, filha de mercadores.
Amigo: (Lendo a carta). É. Pode ser (Termina de ler a carta). Ela está marcando um encontro. (O Príncipe desperta de sua reflexão ansioso por detalhes. Eles conversam sem fazer sons, pois a voz do Cadáver sobrepõe).
Cadáver: Sabendo dos detalhes de como adentrar os jardins da casa da Donzela e de como chegar ao seu quarto sem ser notado, o Príncipe partiu para seu encontro.
(A luz diminui no palco. Sai o Amigo de cena. Todas as mudanças do cenário são feitas rapidamente. No quarto da Donzela está apenas ela, a luz volta a ser forte. A donzela está ansiosa, aguardando o Príncipe).
Cadáver: Seguindo todas as instruções corretamente, o Príncipe chega ao quarto de seu amor. (O Príncipe entra em cena).
Príncipe: (Apaixonado). Finalmente nos conhecemos meu amor.
Donzela: (Apreensiva, se aproximando dele e segurando suas mãos). Pensei que não conseguiria passar pelos guardas do portão, meu amado.
Príncipe: (Sorrindo e a abraçando). Faria de tudo para poder vê-la!
Donzela: (Mesmo estando gostando do abraço, a Donzela se afasta um pouco, como se estivesse incomodada com algo).
Príncipe: (Preocupado). O que foi?
Donzela: Ainda nem o conheço direito, – mesmo que eu sinta que já nos conhecemos a anos -, ainda assim devo saber mais de você…
Príncipe: (Solta uma breve risada e relaxa).
Donzela: … e você mais de mim.
Príncipe: O que você quer que eu lhe conte?
Donzela: Diga-me de onde vem, qual sua casta, o que faz em sua vida.
Príncipe: Venho de… (Eles continuam interpretando como se estivessem conversando quando entra a voz do Cadáver).
Cadáver: Então o Príncipe lhe contou seus antecedentes. Deu-lhe detalhes do que já fez, do que fazia e de seus planos.
Príncipe: Creio que isso é tudo. E você? O que tem a me contar?
Donzela: (Ficando preocupada). Bem… eu estou prometida em casamento para um nobre que não conheço. (Se aproximando do Príncipe e segurando suas mãos). Não quero isso para mim, quero ficar com você.
Príncipe: (Empolgado). Fiquemos juntos então!
Donzela: (Negando com a cabeça. Com tristeza). Não posso! Meus pais ficariam arrasados!
Príncipe: (Condescendente). Pensaremos em algo.
Donzela: (Animada). Sim meu amor! Nós somos inteligentes! Juntos ainda mais! (O Príncipe ri, a Donzela sorri). Não estou brincando. Criei códigos que achei que você não decifraria. Na verdade, fiquei muito preocupada que você não decifrasse! E você decifrou!!!
Príncipe: (Rindo sem graça). Faltou eu lhe contar uma coisa. (Diz envergonhado soltando a mão da princesa e olhando para outra direção dando uma pequena pausa). Não fui eu quem decifrou seus códigos, foi meu amigo e conselheiro. (Sem que o Príncipe veja, ela o olha com grande preocupação, ela se recompões um pouco antes dele se virar para ela). Espero que isso não afete o amor que você sente por mim.
Donzela: (Com sinceridade). Não meu amor! Não afetou! (Eles se abraçam).
Príncipe: (Afastando um pouco seu abraço). Creio que é melhor eu ir. É perigoso eu ficar aqui por tanto tempo, seus pais podem desconfiar de algo.
Donzela: Você tem razão.
Príncipe: Combinaremos um novo encontro em breve, minha amada. (Ele beija as mãos da Donzela e vai até a janela pela qual entrou). Até mais.
Donzela: Até mais, meu amado! (A Donzela fica um tempo olhando para a janela com olhar apaixonado e suspira). Finalmente encontrei o amor da minha vida. (Mas logo seu olhar apaixonado começa a mudar para uma feição muito preocupada). Mas o amigo dele está sabendo sobre nosso relacionamento. E se ele estragar tudo? E se ele contar algo aos meus pais ou a qualquer outra pessoa? (A preocupação torna-se quase um desespero). Não posso deixar que isso aconteça! (Quase chorando). Ele não pode viver…
Cadáver: Preocupada, e ao mesmo tempo apaixonada, ela não conseguiu dormir aquela noite e passou toda a madrugada, planejando como matar o amigo do seu amado, sem que esse soubesse de seu envolvimento nesse ato tão vil.